13/01/2011

mensagem da semana

A vocação de educar

                                                                            Carlos Rodrigues Brandão


algumas palavras sobre o exercício do trabalhador da educação

Os sinais de vida estariam por toda a parte.
Semeados entre a vida e a morte e de novo a vida, eles estariam por toda a parte.
Existiriam já então as flores. Ásperas, duras flores de um tempo anterior ao nosso.
Já então, muitos milênios antes, a forma multiforme da vida teria trazido das águas moventes para o chão de terras as sementes desses ancestrais. Seres da vida entre o azul, e o lilás, o vermelho e o amarelo.
Os grandes sáurios teriam desaparecido e, então, entre outros animais de grande porte o pequenino beija flor corria entre cores e odores fecundando a vida.
Então os seres de que nós viemos baixaram das árvores e aos poucos, a custa de um enorme esforço, ergueram-se sobre as partes de trás e olharam de frente o horizonte. Como os bichos que caçam, eles tinham os seus olhos na face do rosto. Mas, de uma maneira diferente, só eles aprenderam a ver uma mesma fiel imagem com os dois olhos. Perderam os instintos da onça, mas aprenderam a prestar mais atenção do que os anjos.
Ao cabo de outros muitos milênios terão reservado as mãos para ofícios até então desconhecidos, e terão aprendido, seres de quatro patas, de pé sobre apenas duas, uma rara, nova e única postura do corpo.
E entre os dedos o polegar veio a opor-se aos outro dedos. E pela primeira vez a vida gerou uma mão tão sábia quanto a mente que haveria de criar através dela.Uma mão esquecida de andar carregando o corpo, como entre os macacos. Uma mão sutil e interrogativa, para que houvessem os toques do amor , ciência e da arte.
E a arquitetura da boca perdeu aos poucos a ferocidade carnívora e se preparou para o milagre da fala.
Em um ser que anda de pé, que olha com curiosidade, atenção e sabedoria, que conquistou a liberdade dos gestos, primeiro das mãos e, depois, os da fala através dos sinais sonoros dos símbolos, estava aberto o caminho para a atenção concentrada, o olhar inteligente e o gesto sem igual do pensamento.
Um pequeno cérebro no começo igual ao dos seres seus primos: os gorilas, os orangotangos, os gibões e os chipanzés, cresceu, aumentou muito e se tornou complexo e diferenciado. E foram preciso outros milhões de anos para que este lugar do pensamento e da imaginação aprendesse a pensar, a saber e a se pensar, a se saber pensando e a se pensar sabendo. E a se sentir sabendo e a se pensar sentindo. Pois ali foram nascendo, como flores de vida eterna: a memória, o sentimento do futuro, o desejo de troca com o outro, o temor antecipado de morte, a devoção, o afeto temperado pelo pensamento e o ato de pensar tornado reflexão. Um dia Gaston Bachelard diria: estou só, logo somos quatro. E somos mais, pois cada um pode vir a ser a fronteira do infinito.
A vida, consciente de si em qualquer ser-da-vida, torna-se enfim conhecedora de sua própria consciência. Ela passa de uma consciência reflexa a uma consciência reflexiva. Ela salta do sinal ao signo e do signo ao símbolo. Ela cria a cultura, esse modo natural de ser humano. À Criatura que finalmente emerge do som ao sentido, e do sentido ao significado; E cria a palavra e estabelece o primado da comunicação de sentimentos através de símbolos culturais do viver e do sentir.
Daí viemos, e disto somos.

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